O período da pré e proto-industrialização dos lanifícios na Região da Covilhã já é objecto de musealização, através da intervenção realizada no Núcleo das Tinturarias da Real Fábrica de Panos.
Ficou por abarcar o período da industrialização covilhanense, balizado entre inícios do séc. XIX e meados do séc. XX. Este período encontra-se claramente documentado, para além de outras fontes, nos Inquéritos Industriais realizados a nível nacional em 1862-3, 1881 e 1890 e a nível local em 1937. Dele subsistem importantes vestígios materiais, que acentuam a especificidade da Covilhã, na perspectiva do património e da arqueologia industrial.
O projecto de musealização da Real Fábrica Veiga, actualmente em curso, tem por finalidade clarificar os passos dados com a industrialização dos lanifícios na região da Serra da Estrela e, particularmente, na Covilhã. Através dele identificar-se-ão as rupturas e as continuidades, assim como as transformações motivadas não só a nível da indústria como até do ordenamento espacial da própria cidade, cujo tecido urbano se desenvolveu entre as Ribeiras da Goldra, que o margina a Sul, e da Carpinteira, que o delimita a Norte. Os dados do Inquérito Industrial, realizado pela Federação Nacional dos Industriais de Lanifícios, em 1936/37, data que coincide com a generalização da aplicação da electricidade à indústria, permite-nos surpreender, instaladas então nos núcleos fabris da Covilhã (tecido urbano e ribeiras), 158 empresas, algumas delas a trabalhar em vários espaços. Delas restam hoje os edifícios, em ruínas uns, reconvertidos outros, de elevada qualidade arquitectónica vários e todos eles de intrínseco valor histórico, arqueológico e cultural, cuja memória importa integrar no projecto de musealização da Real Fábrica Veiga.
A Câmara Municipal da Covilhã deu alguns passos no sentido da concretização deste projecto. Por deliberação de 22 de Maio de 1990 promoveu e dinamizou a criação de uma Comissão Instaladora do Museu dos Lanifícios, na qual se fizeram representar as instituições e associações da cidade mais directamente ligadas quer à protecção do património, quer à indústria dos lanifícios, quer à investigação. No âmbito do trabalho desenvolvido pela referida comissão foi elaborado e aprovado o Projecto da Criação do Museu Nacional dos Lanifícios, com sede a instalar na Covilhã, tendo o âmbito nacional deste projecto sido justificado e aceite, por parte da então Secretaria de Estado da Cultura. Vicissitudes várias não permitiram a sua concretização, apesar de lhe ter sido atribuído como espaço para a sua instalação, o edifício da antiga Central Eléctrica, na posse da autarquia. Contudo, os objectivos que dinamizaram tanto a autarquia como a sociedade civil no sentido da criação deste núcleo da industrialização encontraram na Universidade da Beira Interior a instituição que iria permitir a sua concretização, quando, para o efeito, disponibilizou os espaços de uma antiga fábrica de lanifícios, a Real Fábrica Veiga, que já tinha adquirido para Parque de Estacionamento. Foi assim possível desenvolver um projecto museológico tendo por base a recuperação deste complexo fabil e a sua refuncionalização museológica. Esta intervenção visou responder a uma carência sentida tanto a nível regional como do próprio país - a criação de um Museu de Lanifícios, polinucleado e de âmbito nacional.
A intervenção realizada, visando a recuperação do imóvel, foi financiada no âmbito das Acções Integradas de Base Territorial - AIBT da Serra da Estrela (III QCA - P.O. Centro).
O projecto de arquitectura, da autoria de Bartolomeu Albuquerque da Costa Cabral, datado de Março de 2001, constitui um exemplo do aproveitamento e recuperação do património industrial da Covilhã, uma vez que preserva os elementos construtivos mais importantes da edificação existente, assim como introduz materiais e soluções arquitectónicas que se harmonizam com as pré-existências, procurando tornar-se exequível o programa museológico delineado.
O projecto museológico elaborado assentou numa criteriosa selecção de espólio têxtil, proveniente quer de doações feitas ao Museu de Lanifícios, quer mesmo de aquisições, reunindo-se já hoje uma razoável colecção de equipamentos e objectos representativos das diversas operações de fabrico dos tecidos de lã. A área de Exposição Permanente procura abarcar, para além da componente técnica, da contextualização geográfica e dos ambientes de natureza económica, social e cultural que envolvem esta indústria, marcadamente desde os inícios do séc. XIX até aos anos setenta do séc. XX, a apresentação das diversas secções do processo de produção industrial, reservando alguns espaços para encenar o quotidiano operário e empresarial e para apresentar o ciclo de transformação da lã, envolvendo desde o ambiente pastoril até aos produtos acabados. Na área das Reservas Gerais encontra-se já instalado um significativo parque de máquinas, bem como um diversificado espólio que permitirá viabilizar a realização de exposições temporárias e temáticas, assim como contribuir para a salvaguarda de algumas das espécies mais significativas do património industrial móvel.
Na elaboração deste projecto atendeu-se a que, em toda a indústria, para além da técnica, deverá estar presente o homem, a comunidade e o ambiente natural envolvente. Nesse sentido o museu, mais do que um mostruário de objectos e máquinas bem encenados, deverá contribuir para projectar a compreensão de toda a ambiência que rodeia uma cidade de mono-indústria e uma região industrial. Concebeu-se como um museu de território, aberto, vivo e didáctico, onde o trabalho dos lanifícios, tanto a nível do país, como da região da Serra da Estrela e da Covilhã se encontram significativamente representados, constituindo-se a Real Fábrica Veiga como um Núcleo da Industrialização e Centro de Interpretação do Ecomuseu de Lanifícios da Região da Serra da Estrela, atendendo igualmente à importância que adquire o Centro de Documentação/Arquivo Histórico que integra.
Consulte a Ficha Técnica.
Consulte Planta do Núcleo da Real Fábrica Veiga.
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